Novo conceito para jovens e idosos é estabelecido pela Organização Mundial de Saúde

Em 1875, idosos eram classificados como pessoas com idade superior aos 50 anos.

 

“O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã”, a célebre frase de Leonardo da Vinci nos remete à reflexão para a passagem de tempo que sempre chega em nossas vidas. Todos nós nascemos, crescemos, vivemos , tornamo-nos jovens e envelhecemos, até findar os nossos dias.

 

Mas quem define a idade para cada etapa? Uns dizem que têm jovens que aparentam ter mais idade. Por ora, há quem diga que existam idosos com mentalidade de um jovem. Diante dessa pluralidade de uma vida inteira, a Organização Mundial de Saúde (OMS), fez uma nova avaliação sobre os parâmetros da idade. 

 

Se em 1875, a instituição Inglesa Friendly  Society Act definiu, em 1875, que idosos eram classificados como pessoas com idade a partir dos 50 anos, hoje esse conceito foi mudado. Para a OMS, existe uma nova ótica no que se refere a ser jovem, ter meia idade e simplesmente ser velho. 


Para a análise, ficou delimitado assim: menores de idade são considerados a partir dos 0 anos chegando até aos 17. Jovens ficam na categoria dos que possuem 18 a 65 anos. Quem já está na faixa dos 66 anos indo até os 79, pode-se considerar como pertencente ao grupo da meia idade. Idosos de fato, são aqueles que têm 80 a 99 anos. Já quem tem o privilégio de adentrar a um século de existência, ficam classificados como idosos de longa vida.

 

À frente da evolução da qualidade dos alimentos, das atividades físicas hoje praticadas pela maioria da população, e do avanço no número de pessoas que escolheram optar por uma alimentação saudável, cresceu-se a qualidade e as expectativas para chegar bem à melhor idade. Como um dia afirmou Sêneca, “os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem”. Então basta saber usufruí-la e viva la vida!

 

Relacionamento e sexualidade são sinônimos de longevidade?

O assunto deveria ser abordado com mais frequência, mas ainda há pensamentos e paradigmas a serem questionados – na sociedade, mas também em nós mesmos. Por isso, essa matéria é um convite à reflexão. Ou de acordo com o psicólogo clínico José Raimundo Gomes podemos encarar o próprio “tabu” como convite: “é ele que nos instiga, queremos quebrá-lo, investigar a sua natureza”.

 

Reunir duas bagagens de vida, não tão leves quanto na juventude, pode soar como algo assustador para quem já passou dos 50 anos. Mas encarar os novos relacionamentos amorosos com leveza e menos pretensão é o que tem feito com que a escolha dos que já estão na melhor fase da vida seja, cada vez mais, não envelhecerem sozinhos.

 

Com o aumento da longevidade e os avanços na sociedade, muito já se fez para romper o imaginário da velhice solitária, inativa e sem sexualidade. Afinal, se a sexualidade nasce e morre com o ser humano é verdade que há uma idade para começar a fazer sexo, mas não para parar de fazê-lo.  É o que afirma Guita Grin Debert, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora do estudo “Velhice, violência e sexualidade”:

“Trabalhos de várias áreas comprovaram que a sexualidade não se esgota com o passar dos anos. É indiscutível o declínio da frequência das relações sexuais, mas emerge, por outro lado, a percepção de que a qualidade dessas relações pode aumentar”. Sua pesquisa aponta que nessa faixa etária os encontros podem ser mais livres e afetuosos. Além disso, os papéis tradicionais de gênero tendem a se inverter. “As mulheres passam a ser menos recatadas e os homens, mais carinhosos. Nas sensações também há mudanças. O prazer estaria espalhado pelo corpo, ocorrendo um processo de desgenitalização”, explica.

 

A redescoberta do amor e a ressignificação da relação com o corpo, contudo, independem de casamento e cada vez mais é possível encontrá-las em novas configurações de relacionamento, como afirma o psicólogo clínico e analista junguiano José Raimundo Gomes. Seja em um namoro, em um reencontro antigo ou no despertar pós-viuvez, não importa, é preciso de uma vez por todas quebrar os tabus de que não há sexualidade na velhice ou de que ela depende, exclusivamente, do matrimônio. “O que define a sexualidade não é a idade que você tem. Se tem 18, 30, 50 ou 70 anos. É a sua quantidade de vida, de alegria e, o que é fundamental, a capacidade de sentir curiosidade por si mesmo através do outro”, afirma o psicólogo.

 

Sexo mais maduro. Será?

No filme “O amor nos tempos do Cólera”, adaptação do livro homônimo de Gabriel García Marques, uma de suas cenas finais traz a atriz Fernanda Montenegro, que vive o papel da octagenária Fermina Daza, tirando a sua roupa aos poucos para se preparar para dormir pela primeira vez com o também octagenário Florentino Ariza, namorado que abandonara na juventude. Apesar de todas as críticas ao filme, a cena também nos despe e nos coloca diante da realidade de muitos homens e mulheres, que encontram na maturidade novas e particulares formas de relacionamento amoroso e sexual.

 

Embora na sociedade contemporânea ainda sobreviva uma concepção de velhice assexuada, fruto de um culto exacerbado da juventude, essa visão é colocada em cheque quando resultados como o de uma pesquisa publicada pela AARP Magazine nos Estados Unidos, feita com pessoas de 40 a 69 anos, aponta para números como: 63% atualmente namorando, 13% interessados em namorar e 14% esperando encontrar o parceiro perfeito. Do total, apenas 9% mencionaram não ter interesse em um relacionamento amoroso. Ou no caso da última pesquisa realizada pelo Pro-Sex (Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade São Paulo), que contou com mais de 8 mil entrevistados, tendo 87,1% dos homens acima de 61 anos afirmando-se como sexualmente ativos.

 

Muito além do sexo, por sua vez, a sexualidade abraça também o interesse pelo outro, o carinho e a vontade de estar junto, o que de acordo com José Raimundo pode ser expresso metaforicamente como a máxima elevação de nossas aspirações por encontros. “Costumo dizer que somos seres irresistíveis uns para os outros e essa irresistibilidade está no nosso DNA natural. Temos fome uns dos outros e essa antropofagia amorosa revitaliza nossa força vital e confere alegria à vida. E essa alegria será tanto mais intensa quanto maior for a nossa capacidade de sexualmente amar como desejo erótico, mas também como metáfora de carinho e de cuidado”. Ao ser questionado sobre a maturidade, José provoca: “ela é o conhecimento do real e a adesão consciente à fantasia.”

 

Para aqueles que não vivem a vida conjugal – ou aos abertos às fantasias – os avanços tecnológicos trouxeram consigo novas possibilidades de se conhecer pessoas e promover encontros sejam através de comunidades e páginas no Facebook ou em sites de relacionamento como o Coroa Metade, que tem mais de 223 mil cadastros. Uma pesquisa realizada com seus usuários, todos a partir dos 40 anos, revelou que a maioria dos homens e mulheres se mudaria de cidade e até mesmo de estado para se casar e que ambos se relacionariam com pessoas mais jovens – boa parte aceitando uma diferença de até 20 anos.

 

Os números relatados pela pesquisa, embora sem fins antropológicos, comprovam o que muito tem se falado sobre a mudança de paradigma do envelhecimento, reafirmado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, com preceitos para um envelhecimento ativo. Cada vez mais, a velhice sai do imaginário negativo de um prenúncio do fim para ganhar contornos de autonomia, nos quais os autores dessa segunda metade de vida podem definir com liberdade quais caminhos seguir e como o desejam fazê-lo. Liberdade essa que José Raimundo credita justamente ao passar dos anos: “Uma descoberta fundamental que a maturidade nos traz é a de que somos livres. Podemos até viver em uma sociedade reprimida e repressora, mas a mente não conhece prisões externas. Somos livres para desejar”.

 

Texto de Luiza Morena

Fonte: Mundo Prateado